Mais uma vez, via Thiago.
Começando pelo fim:
Nesse sentido, o diretor-chave do período pode ser considerado Mario Camerini, autor de comédias, diretor de atores, cujo cinema está vinculado aos modos de produção típicos da época, mesmo fora da Itália. Seus filmes só têm sentido se aceitarmos a estrutura industrial do cinema, as convenções de gênero e o star system, o código dos estúdios. As qualidades de ritmo e iluminação dos seus filmes não se explicam por teorias que tendem a refutar a estética do cinema clássico, a mesma que o neorrealismo, pelo menos o de Rossellini (o Rossellini de Paisà e também o de Viaggio in Italia), colocou em crise na Itália. Foi de fato o exame do cinema clássico, cuja riqueza residia na complexidade das suas convenções, que revelou a fraqueza da crítica italiana e das histórias, e tal exame foi, acima de tudo, responsável por lançar a redescoberta do cinema de 1929-44. A redescoberta de uma tradição do cinema clássico tornou obrigatória, neste sentido, uma reavaliação de toda a história do cinema italiano (pelo menos do cinema sonoro, já que a discussão sobre o cinema mudo ainda não começou). Reestudar o cinema italiano em termos dessa tradição, e não à luz de um neorrealismo que, aliás, se revela muito mais impuro do que se supunha, é a tarefa para a qual se prepararam os mais jovens estudiosos do cinema, fazendo proposições às vezes provocativas, mas não infundadas, que são, em qualquer caso, produtivas. A supressão do cinema de 1929-44, por outro lado, é muito melhor explicada nessa chave digamos estética do que em termos de uma resistência “política”. A supressão do cinema de 1929-44 pelos críticos tradicionais foi sempre mais uma conspiração de silêncio do que uma refutação ideologicamente motivada; escondia uma desconfiança não tanto em relação ao “fascismo” desses filmes, mas em relação ao seu caráter de espetáculo e, em última análise, ao filme como produto de uma imaginação coletiva. Nesse sentido, uma vez superada a “síndrome” do neorrealismo, uma vez que os grandes autores foram libertados do papel de monstros sagrados, uma vez que o papel do cinema como espetáculo foi aceito, a descoberta do cinema de 1929-44 deu origem a toda uma série de outras redescobertas, incluindo uma reavaliação de diretores, filmes e períodos já conhecidos: os filmes cômicos de Totò e Mario Mattoli, os melodramas de Raffaello Matarazzo, gêneros menores como o filme de ópera, os filmes de aventura, terror, mitologia e faroestes (Carmine Gallone, Riccardo Freda, Mario Bava, Vittorio Cottafavi, Sergio Leone); grandes gêneros como a “commedia all'italiana” (diretores como Dino Risi e atores como Alberto Sordi), e diretores injustamente desvalorizados como Augusto Genina, Giuseppe De Santis, Pietro Germi, Luigi Comencini, Alberto Lattuada, cujas qualidades não se limitam a um gênero ou período específico. Não se trata de descobrir gênios, nem de revalorizar obras-primas, mas de mostrar como o cinema italiano não se limita aos poucos nomes aos quais é comum, na Itália e ainda mais no exterior, reduzi-lo. Num momento como este, em que o cinema de cada país está sendo redescoberto e toda a história do cinema está sendo reescrita, é preciso, desde já, reservar ao cinema italiano um lugar que não deixará de oferecer surpresas.
Então, 2024.
Portanto, 2025: